terça-feira, 8 de março de 2016

Crise traz mudanças ao comércio


Nos últimos 12 meses, mais de 3 mil demissões foram registradas na Cidade. E a alta no desemprego, com a mudança na condição de renda da população, já se reflete no comércio local. Ao mesmo tempo em que as vendas caíram, outros fenômenos têm se revelado em meio à crise. Um deles é a mudança no comportamento, não só dos consumidores, mas também dos lojistas. As promoções têm sido permanentes. Além disso, se engana quem pensa que o cenário econômico afastou de vez os investidores. O comércio mogiano tem exemplos de quem enxerga oportunidades em criar seu próprio negócio e é o segundo setor que mais registrou a abertura de novas empresas neste início de ano.
À primeira vista, as estatísticas oficiais não deixam dúvidas de que a crise já se faz presente no comércio. Sem renda, o universo de desempregados consome apenas o essencial. E mesmo quem está empregado, não tem certeza de que continuará no posto de trabalho. Assim, freou os gastos.
Um exemplo ocorreu no último Natal que, depois de muitos anos, foi de retração. Agora, para este primeiro semestre, a estimativa para o comércio varejista no Estado é de queda de 5% a 7% nas vendas.
Ainda que num patamar inferior ao de outros setores, o comércio também tem demitido. Só em janeiro, 124 comerciários ficaram desempregados na Cidade, segundo o Ministério do Trabalho.
“Esse início de ano tem sido de muita cautela porque o movimento está reduzido, principalmente porque nessa época há muitos gastos com impostos e outras despesas, como as escolares. Quem ainda está comprando tem optado por produtos mais baratos, alterando a rotina de vendas no comércio”, constata Tânia Fukusen Varjão, presidente da Associação Comercial de Mogi das Cruzes (ACMC).
Jogo de cintura e criatividade são receitas para sobreviver ao atual momento, opina Airton Nogueira, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Mogi das Cruzes e Região (Sincomércio).
Neste cenário vale realizar promoções e proporcionar descontos, principalmente nas compras à vista. As medidas ajudam a fazer o estoque de mercadorias girar.
Para Nogueira, promoções e descontos ajudam a atrair os consumidores. Porém, informa, o que faz a pessoa comprar e ser fiel a determinado ponto de venda é o bom atendimento e a qualidade do produto. Nada de novo, mas que comerciantes há mais tempo no mercado confirmam como o melhor caminho para vencer as dificuldades.
Há cerca de 50 anos no comércio mogiano, Hyro Cardoso aposta na estratégia do bom atendimento e na diversidade de produtos, com opções para atender todas as classes de consumidores. “É preciso criar condições para que as pessoas possam comprar e fazer cada dia melhor. Além disso, não se pode deixar envolver pelo pessimismo, caso contrário a crise será ainda maior. Podemos ser realistas, mas com otimismo. Só assim vamos vencer esse jogo”, diz ele, ao comentar que o Brasil já viveu outros períodos de crise, como na época do impeachment do ex-presidente Fernando Collor. “Só que da outra vez foi tudo mais rápido, agora ela vem incorporando dificuldade a cada dia”, admite.
Também comerciante tradicional de Mogi, Jorge Yura acredita que cautela e sabedoria são fundamentais. Ele revela uma mudança de hábito dos consumidores, que substituem as mercadorias mais caras por outras similares, de preço mais baixo. “Isso não é só no setor de roupas, mas em todos. Quem comia num restaurante mais caro, acaba trocando por um mais em conta”, exemplifica. “Cabe ao comerciante ter sabedoria para acompanhar essa mudança e se adaptar para esse novo momento”, diz.
O economista Luiz Edmundo de Oliveira Moraes aponta a perda do poder aquisitivo do Real, decorrente da inflação, como uma das causas para a diminuição do consumo. Segundo ele, em maior ou menor grau, todas as atividades econômicas são afetadas. Os produtos não essenciais são os mais atingidos, enquanto os alimentos e gêneros de primeira necessidade perdem pouco mercado.
Segundo Moraes, a solução para a crise passa pelas ações do governo, mas depende principalmente da população. “Quando as pessoas derem os sinais que estão preservando seus gastos, e buscando novas alternativas de renda, isso estimulará os investidores a voltarem a investir e a produzir”, afirma.
Enquanto isso, na área central da Cidade, a maioria dos lojistas segue fazendo promoções, apostando na mudança da estação e na contagem regressiva para o Dia das Mães, historicamente a melhor data para o comércio depois do Natal. “O movimento de clientes diminuiu, mas não podemos nos prender a isso. É fundamental investir no atendimento diferenciado e em preço”, diz Carina Silva de Godói, gerente de uma loja de roupas.

Situação adversa gera oportunidades
O cenário adverso é visto como oportunidade por alguns mogianos. Seja pela realização de um sonho ou por necessidade, diante da falta de novas colocações no mercado de trabalho após demissões, a Cidade tem ganhado novos empreendimentos e o comércio se destaca entre os negócios mais procurados. Só nos dois primeiros meses desse ano, 91 novos estabelecimentos foram abertos em Mogi das Cruzes. O setor soma quase 9 mil endereços (8.896), segundo levantamentos da Prefeitura.
Entre os novos empreendedores mogianos está o casal Seila Cristina e Márcio Gomes Godinho. Em janeiro, eles abriram o Dedim de Prosa, um café na Rua Barão de Jaceguai. O sonho de um negócio próprio era antigo, mas se tornou realidade depois que Márcio, engenheiro civil, ficou desempregado. O período de um ano e pouco sem conseguir uma nova colocação no mercado foi decisivo para o casal investir suas economias num empreendimento deles.
“Sempre tivemos vontade de trabalhar para nós, mas o impulso mesmo veio com o desemprego do Márcio e a necessidade de fazer alguma coisa. Agora, estamos apostando tudo nesse negócio”, conta Seila, que até a última sexta-feira trabalhava como operadora de crédito. A partir de amanhã, ela se dedicará inteiramente a ser empreendedora, no espaço que conta também com a participação do filho Gabriel. “Buscamos minhas origens, em Alfenas, Minas Gerais, para montar um café diferente, que tem como principal atrativo o pão de queijo recheado e o ambiente, que permite às pessoas tomarem café ao som de passarinhos em pleno Centro de Mogi”, diz.
No ano passado, o Brasil registrou quase 2 milhões de empresas e 75% delas são microempresas, abertas em grande parte por trabalhadores demitidos e que, diante do fechamento de vagas, investem a indenização num negócio próprio. 
O setor alimentício é um dos mais concorridos. E foi o escolhido também pelas sócias Mariana Albano, Roberta Carlotto e Mônica Celso. Há poucos dias, elas inauguraram o Madre Pérola - Diversão, Café e Arte, na Rua Frederico Straube, na Vila Oliveira.
Todas empregadas e atuantes no mercado profissional, decidiram que a crise era a oportunidade para realizar o sonho de abrir um espaço dedicado às crianças e às mães, longe das tecnologias eletrônicas e focado na simplicidade. Duas delas deixaram o emprego para tocar o negócio, que vinha sendo idealizado há um ano. 
O empreendimento é definido como uma oficina de artes com café. Há espaços para brincadeiras, festas infantis (sem frescuras, como definem as proprietárias), uma loja de brinquedos didáticos e aulas de arte e cultura, com cursos inovadores, como a dança materna, voltada para gestantes e mães que deram à luz recentemente. Há opções ainda de fotografia infantil, arte circense, teatro e uma oficina sensorial. Além do café, em breve será oferecido também almoço.
“Cada uma das sócias vem de uma área e resolvemos unir forças para realizar o sonho e fazer ele dar certo. Enxergamos a crise com uma oportunidade para um negócio diferente e que tem um ticket acessível para muitas pessoas”, conta Mônica, ao ressaltar que o empreendimento abriu também oportunidades de trabalho.
Foram geradas 15 vagas e, indiretamente, o Madre Pérola ainda movimenta outros profissionais, como artistas e culinaristas.

Empresas
Segundo dados da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, 346 novas empresas foram abertas na Cidade nos meses de janeiro e fevereiro de 2016. O setor mais procurado é o de serviços, com 230 novos negócios; o comércio aparece em segundo, com 91 estabelecimentos; e, a indústria, com 25. 
No total, Mogi tem hoje abertas 21.309 empresas da área de serviços, 8.896 comércios e 814 indústrias.
Fonte: Mara Flôres

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