terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Na contramão da crise, MEIs crescem 25% em 2015 no Alto Tietê

Com demissões, trabalhadores apostam em negócio próprio. 
Região teve em 2015 menor crescimento de empreendedores desde 2009.




Enquanto a geração de emprego formal (com carteira assinada) fechou 2015 no negativo –  o Alto Tietê perdeu 11,4 mil postos de trabalho - o número de microempreendedores individuais (MEIs) que se formalizaram no mesmo período cresceu 25% em relação a 2014. O Alto Tietê terminou o ano com 46.731 empreendedores, 9.450 a mais do que no ano anterior. Apesar do resultado positivo, o setor não deixou de ser afetado pela crise: essa é a menor taxa de crescimento anual no número de MEIs desde 2009. Para o consultores e microempresários, é hora de agir com cautela na hora de abrir um negócio, sem deixar de investir.

Enfrentaremos a crise com muita doçura”, diz o microempresário João Paulo de Lima, de 30 anos. Ele e a esposa, Rubiane Aparecida Souza de Lima, de 35 anos, abriram em outubro do ano passado uma brigaderia que só utiliza chocolate belga. Produto aparentemente muito refinado para se comercializar durante uma crise? Não necessariamente. “Começamos a pesquisar sobre a abertura da empresa, papelada e receitas em outubro. Iniciamos o atendimento e produção propriamente ditos em novembro. Aproveitamos o Natal para alavancar as vendas e em um mês, passamos a produzir além dos brigadeiros, pães de mel e panetones trufados”, detalhou.


Resultado: produziram 2 mil unidades em apenas 30 dias de atividades. Além de apostar em receitas diferenciadas, o preço e o volume de produtos disponíveis para venda também foram estudados. “Visitamos praticamente todas as brigaderias de São Paulo para avaliar preços praticados e produtos oferecidos. Ao contrário do que a maioria faz, damos a opção do cliente comprar apenas um ou dois brigadeiros, por exemplo, e não uma quantidade mínima. Com a receita fracionada, conseguimos aumentar a possibilidade de venda. No Natal fizemos caixas para presentes que variavam enter R$ 10 a R$ 20. Os brigadeiros viraram um presente bonito,  gostoso e barato”, detalhou Lima.
Em janeiro a produção caiu para 300 unidades, mas as datas comemorativas, como Páscoa, por exemplo, são o foco para alavancar as vendas. “Já estamos apostando na Páscoa, Dia das Mães e Dia dos Namoramos. A ideia é criar produtos especiais para estas épocas, o que deve segurar a nossa produtividade nos demais meses”.
E nem mesmo a previsão de um ano incerto para a economia, assusta os empreendedores. “A ideia é expandir. Nossa meta para este ano é abrir uma cozinha própria. Notamos que mesmo com a crise, ninguém deixa de comer um doce. Estamos apostando nisso”.

Foi a impossibilidade de retornar ao mercado que fez o microempreendedor Geraldo Vicente de Souza, de 41 anos, e a esposa Verônica Aparecida Gonçalves, 35 anos, optarem pelo empreendedorismo em 2004. Na época, ter um CNPJ era um processo mais burocrático, então o casal trabalhava vendendo tapioca em Brás Cubas, informalmente. “Também era difícil conseguir um alvará para vender na área central, onde tem uma circulação grande de pessoas, por exemplo. Então eu ia de carrinho pelos bairros fazendo tapioca”, contou Souza.

O autônomo sabia que o negócio tinha tudo para dar certo: as receitas de tapioca feitas pela esposa já tinha conquistado clientes fiéis. Era hora de começar a pensar em sair da rua para ter um ponto fixo.
A formalização aconteceu 10 anos depois. “Em 2014 eu conheci o Portal do Empreendedor e o programa MEI. Fiz um curso no Sebrae e investimos R$ 20 mil, compramos um imóvel de frente a um ponto de ônibus. Aqui nunca fica vazio”, disse. Hoje, além das tapiocas, o empreendedor também vende açaí. “Aqui não tem crise. Trabalhamos bastante, somos organizados e fazemos o que gostamos. Estamos otimistas”.
Estatísticas
O ano de 2015 terminou com 46.731 MEIs no Alto Tietê,  9.450 a mais do que no ano anterior. Apesar do crescimento de 25% em relação a 2014, o ano difícil para a economia também afetou o mercado microempreendedor. Esta foi a menor taxa de crescimento anual desde 2009. Para se ter uma ideia, entre os anos de 2009 e 2010, o número de MEIs cadastrados cresceu oito vezes. Mas há uma explicação comportamental para o fenômeno que vai além da crise. “Além da dificuldade financeira em si, que deixa os empreendedores mais cautelosos na hora de abrir uma empresa,  tem outro aspecto. O MEI começou há mais ou menos 7 ou 8 anos, vamos ter nos primeiros anos intenção de formalização e procura muito grande já que abriu-se uma tremenda oportunidade para aqueles que não tinham condições de se formalizar. O que imaginamos, é que naturalmente teremos uma curva,  vamos atingir ápice e começar a cair, por questões diversas. Talvez estejamos nessa fase. A maioria dos interessados já conseguiram formalização”, explicou o consultor jurídico do Sebrae-SP no Alto Tietê João Carlos Loureiro Gomes.

Mas mesmo com a instabilidade, é possível investir e se dar bem. “Empreender é uma tarefa que requer cautela e estudo muito grande. Muitas vezes a economia de uma vida toda é usada no investimento de um negócio. Empreender durante uma crise, então, é mais responsabilidade ainda, porque não se pode errar”.
Fonte: Jamile Santana


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