quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Mogi perde Tote, o jornalista


O jornalista Tirreno Da San Biagio, fundador do Diário de Mogi, morreu na madrugada de ontem (14) no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Aos 84 anos – que completaria na próxima semana – enfrentava problemas de saúde há quase dois anos. A causa da morte foi apontada como falência múltipla dos órgãos. Deixa a esposa Neid, os filhos Spartaco e Túlio (casado com Márcia) e as netas Giovanna e Rafaela.
Mogiano nascido no Largo Bom Jesus, filho de italiano de Lucca e de paulista de Cachoeira Paulista, Tote – como era conhecido – iniciou-se no jornalismo em 1951 pelas mãos dos irmãos Isaac e Jayme Grinberg, então proprietários da Folha de Mogi. Em 1957, com a noiva Neid, que viria a ser sua esposa, fundou o Diário de Mogi. Tinha 26 anos de idade.
Por 58 anos manteve a rotina de ser sempre o primeiro a chegar ao jornal, inicialmente na sede da Rua Barão de Jaceguai e, nos últimos 40 anos, no prédio da Rua Ricardo Vilela.
Graduado pela Escola de Comércio do Liceu Braz Cubas e pela primeira turma da Faculdade de Direito da Universidade Braz Cubas, Tote sempre se considerou jornalista. Na sua visão, o Diário de Mogi deveria ser o porta voz da Cidade, desvinculado de correntes políticas e tendo por foco, sempre, o interesse coletivo.
Isso ele demonstrou já na manchete da primeira edição, dia 13 de dezembro de 1957, quando o jornal levantou a bandeira da eletrificação da linha férrea entre São Paulo e Mogi. Ao longo dos últimos 58 anos, dezenas de outras causas foram defendidas pelo Diário de Mogi, dentre as quais Tote costumava citar a abertura da ligação Mogi-Dutra como uma das principais. Também as campanhas pela instalação do Corpo de Bombeiros local e para impedir a emancipação do Distrito de Braz Cubas.
Da Redação do jornal saíram propostas como a abertura da Avenida Narciso Yague Guimarães, com a ampliação da antiga “Estrada do Socorro”; a transformação das ruas Dr. Deodato Wertheimer e Paulo Frontin em vias exclusivas de pedestres; a automatização dos serviços telefônicos; a estatização da antiga Mineração Geral do Brasil.
Durante toda sua gestão à frente das empresas de comunicação, Tote deixou a marca de abrir sempre oportunidades para jovens talentos do jornalismo. Muitos dos quais permanecem na Redação ou outros que seguiram carreira em grandes empresas brasileiras.


Da mesma forma, sem nunca ter incursionado pela política, jamais deixou de apoiar candidatos que se comprometessem com a defesa das causas de Mogi das Cruzes. Ou de cobrar aqueles que, tendo se comprometido com as reivindicações locais, não honraram o compromisso. Lendárias as críticas que o jornal fez ao ex-governador Mário Covas na defesa da duplicação da estrada Mogi-Dutra.
Afeito aos amigos que juntou ao longo da vida, Tote Da San Biagio era a alma do que se convencionou chamar de “Confraria de Santa Fé”, grupo de mogianos que, há 40 anos, se reúne na chácara do mesmo nome no bairro do Caputera e onde ele podia ser encontrado para conversas regadas a um tinto italiano de boa procedência. Os vinhos eram seu hobby, que ele cultivava com carinho na adega da casa em que viveu, com a família, nos últimos 30 anos.
Na sua trajetória profissional jamais deixou de aceitar desafios, como a preservação da Rádio Marabá, primeira emissora da Cidade e que ele adquiriu na década de 1960 como meio de manter a emissora local, transformada em Rádio Diário de Mogi. Também foi o maior incentivador dos filhos, quando eles deram início ao trabalho de constituição da TV Diário, hoje afiliada da Rede Globo de Televisão e das primeiras retransmissoras concedidas pelo Governo Federal em processo de licitação pública.
A saúde de Tote se fragilizou ao final de 2013, quando foi internado com problemas cardíacos no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo. Sucederam-se várias outras internações com complicações renais e pulmonares. As três últimas no Hospital Albert Einstein.
Ao velório, realizado ontem no salão nobre da Câmara Municipal de Mogi das Cruzes, seguiu-se o sepultamento no jazigo da família no Cemitério São Salvador.

A Confraria de Santa Fé


Até meados de 1975 não havia o que se tornou, depois, a Confraria de Santa Fé. O que existia era um grupo de amigos que se encontrava em pontos referenciais da Cidade. E em datas especiais. Eles reuniam-se, por exemplo, na Cantina Mogiana da Rua Dr. Deodato para organizar o Bloco Ki...Frio nas vésperas de Carnaval. Em finais de ano estavam na casa de um ou de outro. E, semanalmente, faziam da redação de O Diário de Mogi, então no acanhado - mas de boa memória - prédio da Rua Barão de Jaceguai 388, o seu ponto de encontro.
Até que, um do grupo, o jornalista Tote Da San Biagio, levou avante o sonho antigo de ter uma chácara. Começou a prospectar negócios na Cidade, tão logo deu por concluída a obra de construção do novo prédio do jornal, na Rua Ricardo Vilela. Apareceram vários, mas o negócio acabou saindo com Mister Warren, o fundador da Grifith do Brasil, em César de Souza, e um dos pioneiros do bairro da Vila Oliveira. Há anos era proprietário de uma área no Caputera.


A primeira visita ao local foi desanimadora. As cercas estavam ruídas; a capela original nem se via, volteada por um milharal. O que havia sido uma quadra de bocha coberta era apenas uma área abandonada ao lado de um espelho d’água vazio. O criadouro de coelhos era um galinheiro e o lago dos patos, um buraco só. A garagem da casa sede virara depósito e a própria casa estava inabitável.
Durante quase um ano, o local foi sendo recuperado. A casa manteve seu desenho original, agregando-se ao seu corpo o espaço da garagem que, ampliado, transformou-se em um salão com lareira, banheiros, mesas de jogos, bar e piano. Ainda sobrou para a sauna. A velha quadra de bocha virou uma churrasqueira. O criadouro de coelhos sumiu, assim como o lago dos patos. O gramado substituiu o milharal e a capela ganhou restauração com iluminação especial e até um sino.


As reformas não estavam prontas quando começaram as reuniões. Inicialmente chamou-se a turma de Grupo dos Quinze, por ter esse número de integrantes. Assim começou, há quase 40 anos, a história da Confraria de Santa Fé.


Fonte: O Diário





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